A Cáritas de Crateús conta desde o ano passado com uma nova parceria para potencializar suas ações no campo da Educação. Trata-se do Instituto Unibanco, que vem apoiando as ações de formação e assessoria a 134 escolas públicas municipais em 20 municípios do sertão cearense. Com essa nova parceria também tem sido possível à Cáritas uma avaliação de vários aspectos da sua vida organizacional, o que está possibilitando repensar os processos internos de gestão, e projetar os próximos anos da presença solidária com as populações do semiárido.
A parceria com o Instituto Unibanco, através do Edital de Fortalecimento Institucional, garantirá um aporte de R$ 150.000,00, durante três anos, possibilitando ampliar as ações de formação para professores(as) e a elaboração de um plano de desenvolvimento institucional, que ajudará a Cáritas a se projetar para o futuro, buscando maior eficácia das suas ações e maior capacidade de organização.
Para o agente Cáritas, o pedagogo Raimundo Clarindo, “mais importante que os recursos financeiros disponibilizados pelo Instituto Unibanco, é a oportunidade de vivenciar as trocas de experiências com OSC de todo o Brasil, e contribuir no debate sobre a educação do país”. O Instituto Unibanco tem uma trajetória de apoio à qualificação da educação pública no Brasil, e a Cáritas de Crateús entende que pode também contribuir nessa luta, pela experiência e pelos resultados que vem colhendo na sua própria trajetória, com a proposta de uma educação contextualizada.
Por Raimundo Clarindo, pedagogo e agente da Cáritas Diocesana de Crateús
"E, tomando ele os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu, e abençoou, e partiu os pães, e deu-os aos seus discípulos para que os pusessem diante deles. E repartiu os dois peixes por todos. E todos comeram e ficaram fartos" (Mc 6, 41s)
Há 15 anos, um cordel de solidariedade começou a ser (re) escrito a várias mãos no campo e na cidade das regiões dos Inhamuns e Crateús, quando a Cáritas fora rearticulada na Diocese de Crateús, sob a liderança pastoral de Dom Jacinto. Versos proféticos que têm o lirismo dos gestos concretos de libertação, o consequente protagonismo das comunidades camponesas e periféricas, rimando sempre com a sabedoria popular e o compromisso evangélico, legado da igreja encarnada liderada por dom Fragoso. Havia vários momentos festivos programados para celebrar tal ciclo, que se renova no mês de abril. Porém, diante dos desafios do enfrentamento à pandemia de Covid-19, é na experiência do cuidado com a vida de centenas de famílias atingidas pelas enchentes em Crateús, Novo Oriente, Quiterianópolis e Tauá que a Cáritas Diocesana de Crateús (CDC) renova os votos de ser a carícia da igreja a quem mais necessita.
Após as enchentes do mês de março, rapidamente as e os agentes da CDC se juntaram a entidades parceiras para prestar os atendimentos mais emergenciais, arrecadar mantimentos e contribuição financeira para garantir o mínimo necessário para a preservação da vida das famílias atingidas, e segue na articulação para garantia de direitos. Numa movimentação que marca parte do ser Cáritas de Crateús, que é fazer com, e não para, e não sobre, mas em parceria, numa grande ciranda de solidariedade. Dessa forma foi possível, até o momento, articular, comprar, fazer e distribuir cerca de 1.460 (Mil Quatrocentos e sessenta) Cestas Básicas, que corresponde a 15 mil toneladas de alimentos.
Tais doações foram feitas pelas paróquias e áreas pastorais da Diocese de Crateús, liderada por dom Ailton Menegussi, OAB Crateús, CAACE Crateús, Lion, Sindicato dos Professores de Crateús, Sindicato dos Servidores do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará, Plataforma Educação Marco Zero,Consorcio Brasil Trentino, Fondazione la Rosa Rossa onlus,Igreja da Paz, Governo do Estado e pessoas voluntarias . Foram atendidas até o momento 355 Famílias atingidas pelas enchentes e 1.105 em situação de fome pelo COVID-19, além da entrega de 309 kits de material de higiene e limpeza e 300 Máscaras. Conseguimos através de doação voluntaria Roupas, Redes, Lençois e alguns utensílios domésticos para partilhar com aqueles e aquelas que perderam nas enchentes.
A Distribuição em Crateús foi realizada pela Cáritas Diocesana, Assistência Social, Igreja da Paz e LIONS. Com apoio de Animadores/as das Comunidades, Paróquia Imaculada Conceição, Paróquia Senhor do Bonfim e Agentes Comunitárias de Saúde. Desde Março estamos acompanhando e dando assistência diretamente aos municípios de Quiterianópolis, Novo Oriente e Crateús que foram os mais atingidos pelas enchentes sendo que: Crateús foram 284 famílias atingidas, em áreas Urbanas, dessas 264 com perdas de utensílios domésticos e com algumas estruturas comprometidas; Quiterianópolis 140 Famílias atingidas pelas enchentes, em 08 comunidades rurais, destas 26 ficaram desabrigadas; e Novo Oriente aproximadamente 480 famílias atingidas pelas enchentes em comunidades rurais, 08 perderam suas casas.
Atualmente, a situação de isolamento social por conta da pandemia tem aumentado as situações de fome e já são aproximadamente 1.500 famílias cadastradas e sendo beneficiadas com cestas básicas através das doações que nos chegam. Agradecemos imensamente todos os esforços para partilhar o pão com as famílias e queremos continuar contando com sua doação de alimentos ou contribuição financeira. Agradecemos também a todas as pessoas que nesse caminho apoiam confiam que todas as nossas energias, todos os recursos que mobilizamos, todas as ações que realizamos são para o povo, são com o povo, são do povo de Deus.
CELEBRAÇÃO DOS 15 ANOS
Ao longo de todo ano de 2020 seguiremos celebrando de várias formas os 15 anos de rearticulação da Cáritas Diocesana de Crateús, como for mais viável e justo, fazendo memória de todas as lutas, todas as conquistas, todos os desafios que seguimos tentando superar juntas e juntos, além de todas as pessoas as pessoas imprescindíveis para esta jornada. Sempre a serviço dos cuidados com a vida.
Entrega de mantimentos no bairro Maratoan, em Crateús.
Diante do desafio de atender famílias desabrigadas após
barragens encherem e rios transbordarem nas regiões dos Inhamuns e Crateús,
onde a Cáritas Diocesana de Crateús tem presença mais forte, as e os agentes
Cáritas se uniram a dezenas de voluntárias/os, secretarias municipais, Defesa
Civil e lideranças paroquiais no esforço de mitigar os efeitos causados às
comunidades. Com atuação mais forte em Crateús e em Quiterianópolis, a situação
de Tauá e Novo Oriente também foram monitoradas, e passado o momento dos
atendimentos mais urgentes, como remanejamento para abrigos, arrecadação e
distribuição de donativos, levantamento de prejuízos, o momento é de
reconstrução não apenas das vidas afetadas, mas também da luta pela cidade que
merecemos e queremos.
Embora, felizmente, não se tenha registro de vítimas fatais,
um dado preocupante é que os incidentes ocorrem num período de pandemia, em que
as organizações de saúde recomendam quarentena. Então houve preocupação tanto
com as pessoas dispostas a ajudar, como com as pessoas remanejadas para abrigos
para que os protocolos de prevenção fossem adotados. “Estamos a serviço da
vida. Apesar de toda Diocese de Crateús estar adotando as corretas orientações
e medidas de isolamento social, é preciso que tenhamos a sensibilidade de saber
a hora de abrir exceções. E entre elas está serviços essenciais para a vida. Se
não fosse a nossa intervenção, as consequências seriam muito piores”, argumenta
a irmã Francisca Erbenia Sousa coordenadora da Cáritas Diocesana de Crateús.
Segundo ela, o mesmo cuidado se observou entre as muitas pessoas que se mobilizaram para fazer doações. Primeiro para Quiterianópolis, e depois para Crateús, a Cáritas foi uma das principais referência na arrecadação, seja de material de higiene pessoal, seja de roupas, calçados, alimentos não perecíveis, água e dinheiro. “Apesar de tudo é nessas horas que observamos os sinais concretos de solidariedade. Inclusive, há muitos gestos de caridade de pessoas de outros municípios”, observa Adriano Leitão, agente Cáritas. Doações que, inclusive, continuam sendo aceitas, seja com material de higiene pessoal, água, alimentos não parecíveis ou ajuda financeira através da conta: Ag. 237-2, Conta Corrente 37219-6, da Cáritas Diocesana de Crateús, cujo CNPJ é 07354284/ 0001-63.
Parte da equipe planejando as ações de assistência em Crateús
SITUAÇÃO EM CRATEÚS
Na situação mais recente, ocorrida na madrugada do dia 25 de março, um volume de chuvas de 140 mm provocou a inundação de ruas, alagamento de casas, atingindo ao todo 219 famílias, 679 pessoas. Algumas foram transferidas para abrigos provisórios, como a Escola Municipal Francisca Machado, no bairro Fátima II, e outras duas escolas indígenas. Todas elas, porém, já foram atendidas, ou com mantimentos (roupas alimentos, água potável, etc.), ou com referido remanejamento provisório. Até segunda-feira os órgãos competentes divulgarão um relatório mais detalhados dos prejuízos do ponto de vista material e ambiental, da situação de famílias desalojadas e desabrigadas, além das ações que devem ser adotadas diante da atual conjuntura.
Parte da equipe fazendo triagem nas doações em Quiterianópolis
SITUAÇÃO EM QUITERIANÓPOLIS
Primeiro município que registrou rompimento de barragens e
alagamentos na região, a situação se agravou em Quiterianópolis após as fortes
chuvas que caíram nos dias 15 a 17 deste mês, num inverno já considerado ótimo
nos meses anteriores. As localidades atingias foram São Francisco, São Miguel,
Areias, Ponta I, Santa Rita, Saquinho, Croá, Beira do Rio Poty, Pombo, Pedra
Preta e sede do município. Muitas delas ficaram sem energia elétrica. Foram 83
famílias desalojadas e 31 estão desabrigadas, fora o caso das comunidades
Areias e Pedra Preta, onde até agora não se conseguiu chegar, devido as
dificuldades de acesso. Além de várias casas com estrutura destruída ou
comprometida, foram 42 açudes danificados, 17 poços profundos ou cacimbões
soterrados, 30 estradas vicinais interrompidas, além de 32 passagens molhadas
(espécies de pontes) totalmente destruídas. Nesta cidade, as e os agentes
Cáritas colaboraram com arrecadação, triagem e distribuição de mantimentos.
SITUAÇÂO EM TAUÁ E NOVO ORIENTE
Em Tauá a comunidade Jardim e o bairro Alto Nelândia foram os mais afetados, com prejuízo em lavouras, destruição de cercas, e uma família desabrigada na sede do município. Já em Novo Oriente, 1.820 famílias foram de alguma forma atingidas nas comunidades Areias, São Francisco, Batista, Lagoa das Pedras, Lagoinha, Monte Alegre, Acampamento e Várzea dos Angicos. Quatro famílias ficaram desabrigadas, outras quatro desalojadas e três tiveram a estrutura da casa comprometida.
Com 238 casos confirmados de novo coronavírus (COVID-19), o Ceará é o terceiro estado com mais infectados no Brasil, representando real ameaça de colapso do sistema público de saúde. Atualmente há mais de 150 médicos cubanos morando em cidades cearenses, que estão entre os cerca de 2015 vivendo em todo país que foram desligados do Programa Mais Médicos em dezembro de 2018. Desde então, a gestão de Bolsonaro lançou vagas em editais de programa similar que não foram ocupadas por profissionais brasileiros, sobretudo em áreas mais remotas. No fim de 2019, a Lei Médicos Pelo Brasil deu respaldo legal para a recontratação dos médicos cubanos ora desligados. Estamos no fim de março, em plena pandemia, e o Governo Federal lançou novo edital na última semana, com a previsão de convocar os profissionais caribenhos apenas na terceira chamada, demora esta que é desnecessária e pode custar muitas vidas.
A Associação Nacional dos Profissionais Médicos formados em Instituições de Educação Superior Estrangeiras e dos Profissionais Médicos Intercambistas do Projeto Mais Médicos para o Brasil (ASPROMED), inclusive, até agora não foi procurada pelo Ministério da Saúde para um diálogo, e defende que os médicos cubanos, em especial, sejam reinseridos no programa imediatamente, desafogando de imediato a atenção básica a saúde, que já sofre problemas de falta de atendimento anteriormente à pandemia. “Já entramos com uma ação na justiça e estamos aguardando por uma decisão liminar, pois se trata de uma reintegração, por isso não há necessidade de passarmos por uma nova avaliação ou por um edital. Há pessoas precisando de ajuda e queremos ajudar”, avalia Yunaydis Rodríguez Plutin, representante da ASPROMED no Ceará.
A ASPROMED se respalda na Lei Médicos pelo Brasil, sancionada em dezembro do ano passado e que, entre outras providências, permite a recontratação dos médicos cubanos que estavam em pleno exercício da função quando o acordo entre os governos cubano e brasileiro foi rompido. Para Yunadis, a reconvocação dos médicos cubanos já era urgente, mas diante da pandemia do novo coronavírus é inexplicável que exista tamanha demora para tal, mesmo diante de exemplos como o da Itália, que demorou a tomar medidas mais sérias e com o sistema de saúde em colapso recorreu a 52 profissionais cubanos, entre médicos e enfermeiros. Um mês após o primeiro caso testado positivo para coronavírus, o Brasil só perde para a China no crescimento de casos. São 2.915, com 77 mortes (três no Ceará). No mesmo período (Um mês após o primeiro caso), a Itália, país que hoje tem o maior número de mortes (acima de 7 mil), tinha 1.694 casos confirmados e 29 mortes.
Ou seja, a tendência é que entre abril e maio seja o pico de infecções no Brasil. Auge este que pode ser atenuado com a política de prevenção que já vem sendo adotada pelos governos estaduais e pelo Ministério da Saúde, embora o atendimento a áreas remotas precise ser urgentemente reforçado. “Pessoas com sistema imunológico prejudicado por gripes e outras doenças ficam mais fracas, aumentando a vulnerabilidade delas para o novo coronavírus. É urgente que reforcemos o atendimento básico de saúde, principalmente nas periferias e locais com menos recursos, que são justamente os locais onde nossa atuação mais faz falta”, argumenta Yasminia Tomasen Queralta, médica cubana que atualmente mora em Crateús-CE. A ASPROMED espera que as autoridades cearenses pressionem o Governo Federal para que se faça cumprir imediatamente a Lei Médicos pelo Brasil, e que os profissionais de Cuba possam voltar à atuação para salvar vidas brasileiras imediatamente.
Na manhã de ontem, 04, a Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (RESAB) da região dos Inhamuns e Crateús realizou planejamento anual, além de definir a equipe de secretaria executiva provisória, que vai animar os processos do coletivo até a assembleia, que está agendada para o dia 06/05. Participaram representantes de secretarias municipais de educação do território, da Faculdade de Educação (FAEC) da Universidade Estadual do Ceará – Campus Crateús, e da sociedade civil.
Cinco pessoas foram eleitas para compor a secretaria provisória da RESAB regional: Paulo Cesar de Oliveira, da Cáritas Diocesana de Crateús, Fábio Gomes Siridó, da Secretaria Municipal de Educação de Novo Oriente, Thais Cristine da FAEC, Mardones Servulo, do Instituto Bem Viver e Luzanira Martins de Sena, da Secretaria Municipal de Educação de Tamboril. Entre as tarefas da equipe estão preparar a assembleia, e ser a referência da rede para acompanhar os processos envolvendo Educação Contextualizada nos municípios.
“Também pensamos sobre o Seminário de Educação Contextualizada, que será realizado durante a programação da Feira [da Agricultura Familiar e Economia Popular Solidária] que será realizada no início de junho. Acredito que demos um passo muito importante para construir um caminho para uma educação libertadora, não só em nossa região, mas em sintonia com os 20 municípios que a equipe pedagógica da Cáritas acompanha, através do projeto Contexto”, explicou Paulo Cesar.